Ficamos aqui imaginando o quanto o ensino superior gratuito e de qualidade NÃO TEM VALOR
para as pessoas. Lembrando que estamos com atividades paralisadas por
falta de segurança em Arapiraca. A greve nacional é um outro assunto.
Entretanto, nesse outro assunto, vejam um exemplo de descaso com ensino
superior no Brasil. Vejam também a resposta do professor Antônio Caminha Neto (UFC - Dep Matemática). O final é ótimo!
Essa
semana, a Revista Época e o site do Valor Econômico publicaram o artigo
"A greve remunerada dos professores universitários" (na versão on-line
com o título "Greve remunerada não pode funcionar"), de autoria do
cientista político e ex-professor da Universidade Federal Fluminense
Alberto Carlos Almeida.
Em resposta ao texto, crítico ao movimento
grevista dos docentes, o professor Antonio Caminha Neto, do Departamento
de Matemática da Universidade Federal do Ceará, escreveu uma carta ao
editor da revista Época explicando os vários motivos que culminaram com a
deflagração de greve em 95% das universidades federais do País.
Leia, a
seguir, a resposta do professor Caminha:
“Prezado Editor,
Após
ler o artigo "A greve remunerada dos professores universitários", de
Antonio Carlos Almeida, não poderia deixar de escrever-lhes, aliás, com
profunda indignação. Primeiramente, saltam aos olhos de qualquer leitor
minimamente crítico as várias meias informações e informações
contraditórias do texto. O autor se esquece de mencionar que, após
quatro anos de graduação, dois de mestrado e quatro de doutorado, um
professor universitário recém-contratado recebe, mensalmente, pouco mais
de R$5.000 líquidos. Qualquer médico ou engenheiro recém-formado e
minimamente competente recebe, mesmo aqui no Nordeste, salário maior ou
igual a esse. Por outro lado, quando comparamos esses R$ 5.000 aos R$
13.600 de salário inicial de um auditor da Receita Federal, fica patente
a deterioração salarial dos professores de ensino superior no âmbito da
Administração Federal e o descaso do governo em tornar atraente a
carreira de professor de ensino superior, tão necessária ao país. O
autor tampouco destaca que as negociações de nossa categoria com o
Governo Federal, com vistas ao estabelecimento de uma carreira docente
digna, vêm se arrastando há um ano, sem que os professores tenham
recebido nenhuma proposta concreta. Menciona, ainda, que somente as
aulas foram interrompidas, mas as pesquisas não, e que isso se deve a
nosso interesse em não perder financiamentos como bolsas de
produtividade em pesquisa. Realmente, com o salário que recebemos não
podemos nos dar ao luxo de perder as bolsas de produtividade por
paralisação das pesquisas, simplesmente porque nossas contas mensais não
fechariam; por outro lado, interromper nossas pesquisas equivaleria, no
caso de uma greve de médicos, a desligar os aparelhos dos pacientes já
internados, o que - decerto o autor concordará - não é razoável. É,
ainda, curioso coligir a afirmação que diz, a certa altura, que "os
principais centros de pesquisa não entraram em greve", com aquela que
diz que "os professores grevistas mantém suas pesquisas em andamento".
Em que pese a flagrante contradição entre tais afirmações, gostaria de
frisar que várias universidades federais que fazem pesquisas de ponta em
volume considerável (a Universidade Federal do Ceará e a do Rio de
Janeiro, por exemplo) estão em greve sim. O autor também menciona que,
em universidades estrangeiras, há aulas para salas com 100 a 200 alunos.
Entretanto, ele se esquece de dizer que os professores dessas aulas
contam, em quase 100% dos casos (e me arrisco a afirmar que a London
School of Economics é um desses), com um ou dois professores
assistentes, que são alunos de doutorado que corrigirão provas e
conduzirão aulas de exercícios; eu mesmo, que também estudei em uma
universidade estrangeira, servi de professor assistente em aulas de
Cálculo. Além disso, essas salas imensas são, em geral, de disciplinas
de semestres iniciais ou livres, atendidas por alunos de vários cursos.
Por fim, o autor menciona que foi professor da Universidade Federal
Fluminense entre 1992 e 2005 e que nunca fez greve durante esse período.
Certamente ele não precisava do salário, que era baixíssimo até 2004;
por outro lado, fiquei com a curiosidade de perguntar se, fosse a
carreira de professor universitário mais atrativa, ele teria saído de lá
para o Ipsos e o Instituto Análise. "
Leia o artigo "A greve remunerada dos professores universitários" no site do Valor Econômico: http://www.valor.
Fonte: http://ufalsegura.blogspot.com.br/2012/07/professor-da-ufc-escreve-carta-de.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário